sexta-feira, 2 de novembro de 2007

De volta a 1850

“Na da Itabaiana são o tronco a segurança dos presos, que de mais precisão ser
guardados com sentinella a vista.
Consta que o edifício, onde he a prisão publica dessa villa está por tal modo arruinado que ameaça hum desmoronamento; convindo, por isso, que seja quanto antes demolido, para evitar-se algum sucesso fatal ao mesmo destacamento que ali se abriga.”
(*)

Falla que dirigio a Assembléa Legislativa Provincial de Sergipe na Abertura da Sua Sessão Ordinária no 1° de março de 1850, o Exm. Snr. Presidente da Província, Dr Amâncio João Pereira de Andrade. Sergipe. Typ. Provincial – 1850 – No Largo do Palácio. Administrador J. J. da Silva Braga. P.008


O Promotor Público Emerson Andrade (clique aqui para ver matéria de Edivanildo Santana) repete aqui o que era aconselhado em 1° de março de 1850.
O único prédio de verdade pronto para abrigar um policiamento foi o que foi construído em 1918 e que ainda hoje está de pé, levemente modificado na sua estrutura original e com o nome de Talho de Carne João do Volta (o mercado da carne recém ampliado).
O segundo que funcionou entre 1949 e 1986 já não foi essas coisas todas. E o terceiro – o que atualmente existe, construído pela máquina política de João Alves pra eleger Valadares em 1986 é uma piada.
Para quem teve sua primeira autoridade policial – Capitão de Campo (capitão-do-mato) Simão Fernandes Madeira - nomeada em 13 de outubro de 1663, isso é um atraso de vida que não tem tamanho.
E ainda dizem que Itabaiana é um lugar violento. Querem o que de um lugar cronicamente sem autoridades?
(*) Grafia original.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

A desmoralização do Estado.

O Estado é a instância máxima da sociedade humana. Pode-se dizer que dele tudo provém e a ele tudo deve retornar.
O Estado é imperecível. Confirma isso o que vem ocorrendo nas favelas do Rio de Janeiro já de algum tempo e noutros pontos do planeta, hoje e ontem ou quando vier a ocorrer. Ou seja, na medida em que o Estado na sua plenitude, legalmente instituído se afasta de sua função, um outro, paralelo, com disposição de substituí-lo é gerado e cresce simultaneamente à queda daquele primeiro. Alguém “tem que mandar nesta zorra”, como se diz no popularesco.
Quando a polícia falha ou inexiste, grupos logo se formam para cobrar pela segurança à revelia das leis.
E a maior confissão de falência de um Estado é a confissão de impotência por parte deste. Por Lei o Estado deve ser onipotente, ressalvados os direitos dos cidadãos deste mesmo Estado. O Estado, então, é tudo. Está acima de tudo. Não pode curvar-se a ninguém.
O Estado se manifesta pelos seus instrumentos e, um deles é a força que deve ser de dissuasão antes de tudo. Em geral ela é chamada de Polícia ou exército, conforme as funções dessa mesma força.
Mas no Brasil; em Sergipe; em Itabaiana, mais especialmente na BR-235, quilômetro 51, Posto da Polícia Rodoviária Federal o Estado demonstra que não existe, ao menos num aspecto: foi preciso colocar quebra molas na pista, em dois sentidos, para que fosse observada a obrigatoriedade de redução de velocidade junto à instituição máxima do policiamento de trânsito do país.
É a desmoralização de um Estado em que policiais até podem escoltar recolhedores de apostas no jogo do bicho; mas não costuma pegar ladrão e muito menos impor-lhes respeito para que não consolidem suas atividades criminosas.
Podem até proteger banquinha de venda de CDs piratas; mas é impotente para dissuadir trombadinhas a assaltar gente indefesa.
Como diz o Chico Buarque de Holanda (Acorda Amor): Chame o ladrão; chame o ladrão, chame o ladrão.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quero meu campinho de volta.

Leio hoje no blog de Aninha Mendonça que na Escola Neilde Pimentel, no Bairro Marianga aqui em Itabaiana uma experiência ali tocada de promoção ao judô vem trazendo excelentes resultados e, coincidentemente assisti a mais uma reportagem sobre a futura Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Os dois assuntos me reportam aos meus cinco anos de idade na pracinha da Mangabeira, a brincar com coleguinhas de mesma faixa etária – alguns deles meu primos – e onde já ali, por volta de 1965, o “mantra” recitado por nós ao chutarmos tropegamente uma bola era “gol de Pelé!” Isso serve para demonstrar o peso que o nome do já gigante tricordiano exercia naqueles tempos.
Ambos os assuntos também me reportam aos meus tempos de estudante primário e o imperdível recreio de trinta minutos onde se fazia – mesmo sem o saber ou querer – o treino necessário para a convivência social futura. Como? Através das também imperdíveis partidas de futebol. O campinho de futebol era um espaço socializante, edificador da cidadania e da convivência sadia com a diversidade e as adversidades.
E aí me deparo com meus filhos que já adultos ou quase, não lograram o prazer de ter espaço. Sua escola foi um lugar de entupimento mental, de poluição intelectual mesmo, de conhecimentos e teorias – na maioria das vezes anacrônicas e xenófobas, logo, de serventia duvidosa – como se tornou a escola brasileira. Um lugar de aprender, sim e ainda; mas acima de tudo um lugar de consumir livros de editoras cada vez mais sedentas de lucro e que chantageiam autoridades – escolares ou político-administrativas - através de sabujos na mídia, transformando o ato excelso e sagrado de ensinar e aprender num mero negócio. Acabaram com meu campinho. Não apenas no sentido físico, mas no sentido de tornar a escola um lugar de convivência social. Um verdadeiro preparo para a vida.
Do ponto de vista físico, a insensibilidade administrativa dos políticos retirou-nos a possibilidade de mantermos os espaços necessários ao lazer, e isso não apenas da criançada.
Oxalá que, aproveitando o clima de Brasil-2014, o esporte mais popular do país - assim como outros - volte à agenda da vida nacional possibilitando a redução de vários males atuais, inclusive a violência de uma galera que desaprendeu a praticar a concorrência saudável com a devida tolerância, e a vontade de vencer praticada com civilidade.
Post Scriptum: Trabalhinho instigante esse aqui (está em inglês).

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Réquiem para a Mossaranha.

Ontem, 29 deste outubro deste 2007 estive na Mossaranha – do original Mçarabãe, segundo Sebrão Sobrinho – e... que estado lastimável! A pequena lagoa, origem de tão bela lenda e que já foi registrada pelo escritor e aventureiro Sir Richard Burton está invisível, debaixo de um capim alienígena que lhe tomou e, sequer serve para que se tome banho nela como tanto se fez ou mesmo que venha se prestar ao abastecimento de animais, como o foi durante séculos, inclusive dos boiadeiros de Simão Dias e dos flancos da Miaba em direção às Laranjeiras, esplendorosa, do século XIX.
Sua importância no passado era tamanha que, junto com as lendas que permearam o mundo acerca da Itabaiana ela foi parar nas páginas do livro de Burton (The highlands of the Brazil, Tinsley & Brothers, Londres, 1869), como uma lagoa de três léguas de comprimento, ou seja, 19,6 quilômetros, talvez numa confusão com a Puripiá dos holandeses, esta, próximo à margem do São Francisco e com o nome atual de lagoa do Cedro.
Sobre lendas, aliás, os ingleses – e escoceses - do Sir Burton são exímios em delas extrair algo mais palpável. Mais sólido. Basta ver o que acontece com o sem graça nenhuma lago Ness onde ninguém nunca pôde provar, mas tantos conhecem ou conheceram alguém que viu um tal de monstro por lá, que nenhuma tecnologia submarina atual foi capaz de comprovar. Vale a lenda. Vale os milhões de libras esterlinas - e euros - com turistas ávidos pela magia da lenda.
Quanto à nossa Mossaranha, continua ela a ser a Lagoa do Forno sem nenhuma importância dos últimos tempos e agora, sequer faz resplandecer o sol sobre a testada da Serra de Itabaiana como muitas vezes testemunhei em meus tempos de criança, já que coberta de capim alienígena. Agora ela é apenas um problema que poderá ser “resolvido” com algum aterro futuramente, né?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Transgenia

A gente vai contra a corrente até não poder resistir
Na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva e carrega a roseira prá lá.

Francisco Buarque de Holanda - Roda Viva

O termo é novo, mas o mal que o invoca é antigo, e pior, volta e meia ele está de volta; recorrente.
Desta vez é porque tem pepino – talvez uma roça deles - com cheiro de castanha torrando no ar.

Off line (sem linha; ou desligado).

Considero-me com autoridade para falar sobre o assunto a seguir por estar atualmente meio desligado dos circuitos formadores e informadores das notícias em Itabaiana.
Ontem, às dezesseis horas houve a abertura dos Primeiros Jogos do Interior aqui no Presidente Médici. Apesar de residir bem pertinho, eu lá não fui. Quando me veio a curiosidade pelo som do serviço de alto-falantes que chegou nitidamente à minha casa, fui à internet e encontrei notas em dois dos portais da cidade. Releases da Secretaria de Estado que cuida do desporto.
Acredito que não houve essas freqüências todas, apesar de estar Itabaiana sem muita atração de lazer que se possa classificá-la como uma cidade. Quase igual aos tempos de Guilhermino Bezerra quando ganhou o status de cidade apenas para promover os dois irmãos professores do dito deputado estadual.
Eu acho que faltou comunicação.
O evento reuniu boa parte dos municípios sergipanos e, por se tratar de algo envolvendo as maiores autoridades do Estado e do Município - além de outros – era esperada uma promoção publicitária bem mais marcante. Que chamasse a atenção deste desatento escriba, inclusive.
Ao contrário dos shows abertos na Praça de Eventos, ao lado, não percebi nenhuma movimentação de pessoas pelas ruas em direção ao Estádio Presidente Médici.
Ora, a publicidade é uma obrigação constitucional e não há crime algum em exercitá-la. O que é crime é usá-la para outras finalidades que não a promoção do interesse público.
Talvez tenha havido excesso de zelo dos responsáveis pela publicidade governamental do Estado, todavia, é preciso que entendam que ao balcão de negócios em que se transformou a informação noticiosa, especialmente nos últimos trinta anos não há alternativa; a não ser dançar conforme a música. Obviamente que mantendo o cuidado de não cair na zona do umbral.
E, pra ser direto, não adianta incensar o caminho com assessores bem relacionados sem, contudo portar um cheque à mão. Em verdade este último item conta enormemente mais que o primeiro. De fato, é o que conta.
Se bem usado o último item acima fará milagres. Fará com que muita gente – até mesmo do tipo que se acha o máximo – “amoleça” o coração e “abraçar a causa”.
Coisa de profissional. Dizem.
Detalhe: não abuse. Recentemente os que governavam assim o fizeram, mas esqueceram do principal, aquém do alcance dos sabujos. A prova é a presença dos que agora governam no governo.