domingo, 26 de julho de 2015

Hoje é Dia de Santa Ana e São Joaquim

Consagrado aos avós, o dia 26 de julho assim o é pelo fato de ser o dia inicialmente consagrado pelo calendário católico a Santa Ana e São Joaquim, respectivamente mãe e pai de Maria, mãe de Jesus. Logo, avós daquele a quem a Igreja consagrou como uma das pontas da trindade divina.
Eu era muito pequeno, mas ainda lembro do arre-arre que precedia o dia de hoje no povoado em que nasci, e lá vivi até os seis anos de idade: a minha Mangabeira, da minha Itabaiana, deste meu estado de Sergipe, neste meu Brasil, desta minha América... e nesta minha bela bola azul que nós a chamamos de Terra. A partir do dia 17, chovesse ou fizesse sol, era iniciado o ciclo de nove noites de rezas, engrossado ou não por missas, quando o pároco, então de Nossa Senhora da Boa Hora do Campo do Brito lá podia ir, e quase sempre por outras atividades de contrição como terços e ofícios. Ainda hoje ressoa nos meus ouvidos as vozes das moçoilas rezadoras de benditos, como um deles, que vez em quando me lembro, e que é mais ou menos assim: “Santa Mãe de deus, mãe do Salvador, abri os céus, das almas tende compaixão.” Este “abri”, eu devo tê-lo escutado no início de um sono pesado, porque sua lembrança sempre me traduz tranquilidade. E, claro, às noites, vinham as novenas; impropriamente assim chamadas, já que novena são as óbvias nove noites de reza; e não apenas uma. Até a minha saída de lá com meus pais, era o meu pai, construtor da primeira capelinha, justo para introduzir o que se transformou em tradição, quem era o rezador. O que liderava as noites de rezas. A jaculatória era rezada toda em latim e começava assim:
Puxador: Deus, in adiutorium meum intende
Respondedores: Domine, ad adiuvandum me festina
Puxador: Gloria patri, et filio, et spiritui sancto
Respondedores: Sicut erat in principio, et nunc et semper
Et in saecula saeculorum.
Todos: Amen
Em seguida, e ainda todos:
Veni, veni, Sancte Spiritus, reple tuorum corda fidelium, et tui amoris in eis ignem accende.
A partir daí tudo era em português.
Para nós, naqueles tempos, era o fim de toda a programação de rezas pós-Semana Santa que começava com as rezas do mês de maio, passava pelo novenário ou trezenário de Santo Antônio, as “novenas”, de fato, como já dito, noites de rezas, de São João, São Pedro e São Paulo e, de vez em quando, Santa Izabel. Curioso é que o ciclo total de rezas, de fato era iniciado na Quarta-Feira de Cinzas, com a entrada no período quaresmal. Ali, sanfonas, violões, cavaquinhos, tamborins, caixas, zabumbas, triângulos, rabecas e toda a sorte de instrumentos tinhas cordas ou couros relaxados, somente voltando rapidamente no São João, que sempre foi uma festa mista, com presença do sacro e mundano, porém, era a partir de agosto que o pau quebrava em termos de festas populares como reisados, congadas, São Gonçalo, cheganças, samba-de-coco e outras modalidades, até o próximo carnaval.
Depois da saída do meu pai do povoado, as noites de rezas continuaram, porém, em 1969, três anos depois, missões de freiras tornaram-se constante por lá e estas modernizaram o modo antigo de rezar a novena de Sant’Ana, abolindo, inclusive, o belíssimo bendito que também até hoje ressoa aos meus ouvidos: “Oh minha Senhora Sant’Ana, sois do céu a melhor ave. Livrai aos pecadores, protegei os miseráveis”. Bem compassado, em tom melancólico, como era comum nas rezas populares ou popularizadas daqueles tempos. Claro que isso gerou revolta nos moradores mais tradicionais, porém, os novos costumes vieram pra ficar, e acho que nunca mais o modo antigo foi executado.
Hoje à noite, dia 26 deste julho de 2015, deve haver a tradicional noite de rezas por lá, que se realiza desde 26 de julho de 1947. Não tenho certeza, mas deve haver.
Deu saudades!